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Uma mulher que fez história numa profissão de homens

Há exemplos de vida sobre os quais devemos reter um pouco a nossa atenção – aproveitando-os, quem sabe, como fonte de inspiração. Um desses exemplos foi deixado por Manuela de Azevedo, que faleceu esta sexta-feira, dia 10, aos 105 anos. Uma longevidade incrível e, acima de tudo, uma história de vida feita de coragem e arrojo.
Os títulos das notícias da sua morte destacaram-na como “a primeira mulher portuguesa a ter carteira profissional de jornalista”, mas Manuela de Azevedo foi, acima de tudo, uma mulher que entrou para o jornalismo numa altura em que esta era ainda uma profissão de homens. Mais: desenvolveu grande parte da sua carreira numa época dominada pela censura – para quem nasceu depois do 25 de Abril de 1974 será necessário fazer um exercício mental gigantesco para tentar perceber a dimensão da ousadia desta mulher.
Entrevistou Hemingway, Eva Perón e o Rei de Itália – disfarçou-se de criada para chegar ao rei Humberto II, então exilado político em Sintra, conseguiu entrevistá-lo e vender a peça para vários órgãos internacionais – ao longo de uma carreira de seis décadas, em jornais como o Século, República e Diário de Notícias.
Foram muitas as histórias e experiências que teve a oportunidade de partilhar com as mais novas gerações de jornalistas, mas há uma – contada pela própria, em entrevista ao DN, em 2013 – que importa recordar: “Quando pelos anos 1930 cheguei ao jornal República, o meu primeiro jornal, esperava-me uma secção criada de propósito para mim chamada Tribuna da Mulher. Recusei imediatamente. Era só o que faltava, nem tribunas de homens nem de mulheres, ali havia jornalistas e quem tivesse unhas tocava guitarra. E eles lá cederam. Mas também encontrei ossos tão duros quanto eu.”
Manuela de Azevedo também escreveu contos, romances, poesia, teatro e ensaio. Nunca escreveu à máquina, nem num computador, mas isso não a impediu de ser jornalista até aos 85 anos. Uma vida cheia, protagonizada por uma mulher ímpar.

 

manuela

 

Créditos da foto: Global Imagens/Notícias Magazine

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