De repente, o mundo dela virou-se ao contrário. O seu grande projecto de vida pessoal desmoronou-se. Mais grave do que isso: tudo aconteceu sem aviso prévio, com a rapidez e a brutalidade de um tsunami. Gostava de lhe poder aliviar a dor, mas a única coisa que está ao meu alcance é ajudá-la a suportar a dor.
Era um casamento perfeito, sólido, e ganhou ainda mais brilho com a chegada dos pequenos rebentos. Em apenas um mês, no máximo dois, tudo ruiu. Assim do nada. Só porque apareceu outra pessoa. Aquilo que levou tantos anos a construir, a solidificar-se, aluiu, com toda a força e violência.
Como eu gostava de lhe poder aliviar a dor. Mesmo sabendo que ela é forte, lutadora e resiliente, adorava ter esse poder mágico. Não tenho. E, muito sinceramente, acho que ela também não ia querer que alguém resolvesse os problemas dela – com ou sem magia. Ela tem força mais do que o suficiente para curar as suas próprias feridas, erguer-se e seguir em frente.
Dou-lhe apenas o ombro para ela chorar sempre que necessitar. E puder. Como assim? “O mais difícil disto tudo é ter de sorrir quando só me apetece chorar”, contou-me, já depois do primeiro copo de vinho. “Não quero que os meus filhos, a minha família, sofram ainda mais com a situação ao verem-me triste”, explica-me. Por isso mesmo, aumenta o volume do rádio do carro, escolhe uma música bem ritmada e canta. Luta, com todas as suas forças, contra o choro. Simula uma alegria e entusiasmo que não sente. Tudo para que os outros não chorem (como consegue?).
Chorar deveria ser um direito universal do ser humano. Ninguém devia ser obrigado a reprimir as suas emoções. Ninguém e muito menos ela. Resta-me apenas essa convicção: cada lágrima que conténs, amiga, será transformada num grão de felicidade. E como tens retido muitas (eu sei que sim), não tarda nada vais estar a viver um dia-a-dia repleto de alegrias, de sorrisos sentidos e muitas gargalhadas. Nessa altura, não te esqueças de aumentar ainda mais o volume do rádio do carro, escolher a mais alegre das canções e canta o mais alto que puderes. Sim. Esse dia está prestes a chegar.
Maria José Santana