Sempre gostei muito do número 27. Apesar de não ser dada a superstições e a crendices, devo confessar que este número me provoca empatia. Porventura devido ao facto de ter nascido num dia 27, ou porque guardo memórias muito especiais dos meus 27 anos de idade (grandes conquistas pessoais e profissionais), mas a verdade é essa: se tivesse que apontar um número preferido, sem sombra de dúvida, seria esse. Bem vistas as coisas, talvez não tenha sido assim tão fruto do acaso eu ter decidido deixar de fumar, precisamente, num dia 27.
Já lá vão três meses. 91 dias, para ser mais precisa – a contabilidade é feita por uma aplicação que tenho instalada no telemóvel -, de superação pessoal. Gostava muito de vos dizer que tem sido fácil, que tudo tem sido um mar de rosas, mas não tenho coragem para mentir. Foi – e continua a ser – um desafio, uma luta exigente. Ainda assim, tenho de admitir, é também por isso que me está a saber tão bem ter passado a essa condição de ex-fumadora. Há lá coisa melhor do que sentirmos que somos senhores e donos da nossa própria vontade?
É verdade que nunca me senti verdadeiramente dependente do tabaco – e também não fumava assim tanto quanto isso -, mas havia rituais e actividades nas quais não abdicava de um cigarro. Um copo de vinho, um café após uma refeição mais farta… E até mesmo o próprio acto de escrever e criar um texto – que, afinal, é o meu modo de vida – era algo que exigia um cigarro (no mínimo). Parecia que já nem dava para fazer uma coisa sem a outra (confesso: os primeiros textos “livres de fumo” custaram um pouco mais a sair).
Foi preciso voltar à estaca zero. Ou seja, voltar a fazer (e a refazer) tudo o que habitualmente associava a um cigarro, mas sem ele. Um desafio, tal como escrevi no início. E tem valido a pena? Claro que sim. Sabe tão bem não depender de um cigarro para escrever um texto, para degustar um bom copo de vinho – ainda que, estranhamente e muito esporadicamente, sonhe comigo a fumar (os psicólogos lá deverão ter uma explicação para isto).
A luta continua, é um facto, mas há um brinde que merece ser feito. E um agradecimento, também. Ao número 27. Perante toda esta vivência, quase que arriscaria a dizer que ele é o meu número da sorte (e só não o digo, porque comecei o texto a dizer que não era dada a crendices).
Parabéns, também travo essa luta. Tudo muda, é aprender a viver sem o cigarro. Depois dos três meses, a que brindo, vem a fase do luto e o prazer de conquistar mais um copo sem um amigo intimo de todas as horas. Um bride à sua determinação em subtrair a adição.